ARTIGO: É possível a indústria do tabaco contribuir para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável?

tobacco_crop
Por Guatimozin Santos

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, ao propor um plano de ação claro em direção a um futuro sustentável tornou-se um referencial para todos os setores da sociedade. Este grande pacto convida todos a repensarem o seu papel, incentivando mudanças transformadoras e sistêmicas. Alguns anos após o seu lançamento, a clara necessidade de encontrarmos sinergias para acelerar ainda mais o ritmo para atingir os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), deixa evidente o papel que a colaboração entre as diferentes partes interessadas desempenhará nesta jornada. 

Para o setor privado, ir além do crescimento econômico e gerar uma mudança positiva exige  mais do que somente pensar em como as gerir suas operações e cadeias de valor. É imperativo enfrentar as externalidades associadas aos seus produtos e/ou serviços e buscar alternativas para mitigar ou, caso seja possível, eliminar este impacto negativo. Em diversos casos, isso implica em não somente mudar a forma de fazer negócios, mas provocar uma profunda mudança em seus produtos ou serviços-chave. 

Mudanças sistêmicas são capazes de causar um impacto positivo tremendo, caso bem direcionadas. Mesmo genuinamente engajadas na sustentabilidade e dispostas a mudar radicalmente seus modelos de negócio, algumas empresas enfrentam resistências ao buscarem colaboração com outros setores da sociedade, resistência esta em grande parte decorrentes do seu déficit de reputação.

A comunidade de controle do tabaco vem buscando erradicar o tabagismo nos últimos 20 anos, e ainda assim um sétimo da população global ainda fuma. Além disso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que o número de fumantes em todo o mundo permanecerá essencialmente inalterado em mais de um bilhão no futuro previsível. Existe um crescente consenso junto a comunidade científica e especialistas de que produtos de tabaco que não geram combustão, como os produtos de tabaco aquecido, podem trazer uma relevante contribuição ao complementar as políticas de controle e cessação do tabagismo já existentes. 

Graças à inovação científica e tecnológica, temos o dever de provocar uma profunda mudança e demonstrar que nossos esforços não são apenas compatíveis com o desenvolvimento sustentável, mas que podem desempenhar um papel catalisador na abordagem de um dos principais desafios da sociedade. Contudo, relevante parcela da sociedade ainda mantém-se cética sobre a possibilidade da indústria do tabaco ser parte da solução. Na verdade, é quase impensável para alguns setores da sociedade pensar na indústria do tabaco como um parceiro.

Mas, se houver a possibilidade de uma empresa de tabaco fazer parte da solução, quais seriam as condições? De que forma esta colaboração seria possível de forma a se preservar os avanços até então conquistados na redução do tabagismo? Na nossa visão, a principal contribuição de uma empresa de tabaco para a Agenda 2030 e para a sustentabilidade reside em usar todos os seus recursos no desenvolvimento de melhores alternativas que possibilitem o fim dos cigarros. Entretanto, a construção de um futuro sem fumaça só será possível através do diálogo e da colaboração entre diferentes setores da sociedade: desde governos, comunidade médica e científica, reguladores, indústria e terceiro setor.

A indústria do tabaco é um exemplo de um setor onde parcerias poderiam acelerar significativamente mudanças sistêmicas em benefício da sociedade. Por uma questão de princípio, nós adotamos uma abordagem colaborativa e buscamos parcerias, mesmo reconhecendo as controvérsias em torno do setor, que tornam difícil para muitos stakeholders até mesmo considerarem a possibilidade de estabelecer parcerias com uma empresa de tabaco. 

No entanto, também sabemos que, se formos transparentes sobre as nossas intenções e os desafios que enfrentamos e estivermos dispostos a assumir compromissos claros que podemos honrar consistentemente, existem diversos stakeholders dispostos a ouvir sobre as contribuições concretas que podemos fazer. 

O setor privado desempenha um papel crucial em relação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, desenvolvendo soluções concretas e modelos de negócios sustentáveis, por meio da ciência, tecnologia e inovação. E para uma empresa de tabaco não pode ser diferente.

Guatimozin Santos, Gerente de Assuntos Corporativos da PMB 

Share this